As bandeirinhas coloridas, o cheiro de milho cozido e o som da sanfona não marcam apenas a chegada do inverno no Brasil. Muito além das celebrações populares, as festas juninas também deixaram um legado marcante na cultura escrita do país, especialmente na literatura de cordel, um gênero que mistura poesia, oralidade e ilustrações tradicionais.
A origem rural das festas e da escrita popular
As festas juninas têm raízes rurais e religiosas, trazidas pelos colonizadores portugueses, mas adaptadas de forma muito própria no Brasil. Danças típicas, comidas regionais e encenações como a do casamento caipira fazem parte desse grande mosaico cultural. Esse mesmo ambiente rural e cotidiano, cheio de personagens caricatos e histórias fantásticas, é justamente o pano de fundo de muitos livretos da literatura de cordel.
O cordel como espelho da cultura nordestina
Muito popular no Nordeste, o cordel é um tipo de poesia impressa em folhetos, geralmente expostos pendurados em cordões — daí o nome. Suas rimas simples e histórias envolventes narram lendas, causos, heróis populares e até fatos políticos, tudo com uma linguagem acessível e carregada de identidade regional. É nas festas juninas que muitos desses textos ganham vida, sendo declamados em voz alta, acompanhados de música e aplausos.
Uma tradição passada de geração em geração
Durante os festejos, é comum encontrar artistas populares vendendo ou declamando seus próprios cordéis em feiras e praças. Essa tradição oral e escrita atravessa gerações e segue viva até hoje, mostrando como a literatura de cordel não é apenas entretenimento, mas também um meio de preservar memórias e modos de vida.
Quadrilhas e narrativas rimadas: mais em comum do que se imagina
A estrutura narrativa de uma quadrilha junina, com seus personagens típicos (noivo, noiva, padre, delegado), se assemelha à de muitos cordéis. Ambos trabalham com arquétipos populares, humor e rima. A teatralidade da dança, somada ao enredo cômico e previsível, casa perfeitamente com o estilo dos livretos que fazem parte desse gênero literário.
Cordel nas escolas: educação com sotaque cultural
Muitas escolas brasileiras aproveitam o período junino para ensinar sobre o cordel, incentivando os alunos a escreverem seus próprios folhetos e compreenderem as rimas e ritmos. É uma forma divertida e eficaz de introduzir a poesia, ao mesmo tempo que valoriza a cultura local. A literatura de cordel funciona como ponte entre o passado e o presente, entre o erudito e o popular.
Por que a literatura de cordel ainda encanta?
Mesmo em tempos digitais, o cordel continua encantando leitores por seu formato direto, visual marcante e oralidade envolvente. É comum vermos adaptações modernas, com temas contemporâneos, circulando nas redes sociais ou até impressos em pequenas tiragens independentes. A linguagem do povo ainda encontra espaço, mostrando que esse gênero é mais atual do que nunca.
O papel do livro na festa: mais que decoração
Nos clubes de assinatura como o Literatour, que valorizam a experiência e o afeto pelos livros, é natural olhar para o cordel com carinho. Ele representa o livro em sua forma mais simples e democrática: acessível, barato, portátil e feito para ser compartilhado. Incluir cordéis em edições temáticas de junho, por exemplo, seria uma maneira linda de conectar os leitores com a cultura popular de forma autêntica.
Conclusão: quando o arraial encontra a poesia
A festa junina vai muito além do que vemos nos arraiais: ela pulsa também nos versos rimados, nas histórias que atravessam gerações e nas páginas amareladas dos cordéis. Ao entender como a literatura de cordel se entrelaça com essa celebração tão brasileira, a gente valoriza ainda mais o poder da cultura oral, da memória afetiva e da palavra escrita — especialmente quando ela é passada de mão em mão, entre fogueiras, bandeirinhas e sanfonas.
Gostaria de publicar um cordel sobre a nossa rica cultura como devo fazer abraço Zepoeta