Muitos leitores sentem culpa quando percebem que vão abandonar livros no meio do caminho. Afinal, existe uma ideia quase romântica de que um “verdadeiro leitor” termina tudo o que começa. Mas será que isso faz sentido?
Segundo a psicóloga Dra. Art Markman, da Universidade do Texas, insistir em terminar uma leitura desinteressante pode gerar um tipo de estresse mental conhecido como custo irrecuperável. Em outras palavras: sentimos que já investimos tanto tempo e energia naquele livro que seria “errado” deixá-lo de lado. Porém, continuar pode causar ainda mais frustração.
Seu cérebro quer dopamina, não desafio
Nosso cérebro é movido por recompensas. Toda vez que você se envolve com uma história envolvente, seu sistema de dopamina ativa uma sensação de prazer e motivação.
Mas quando a narrativa se arrasta, os personagens não convencem ou a linguagem é excessivamente densa, o cérebro começa a associar a leitura ao esforço — e não à recompensa. Resultado? A motivação vai embora, e o desejo de abandonar livros cresce silenciosamente.
O papel da expectativa (e da capa bonita)
Outro fator decisivo está nas nossas expectativas. Comprar um livro elogiado por todos, com capa impactante e sinopse irresistível, ativa uma antecipação emocional enorme. Só que, muitas vezes, o conteúdo não corresponde ao imaginado. Quando isso acontece, a decepção se transforma em desinteresse.
A frustração por não se conectar com o livro esperado também pode gerar um tipo de bloqueio literário, levando o leitor a abandonar livros por semanas — e até interromper o hábito de leitura por completo.
Personalidade e tipos de leitores
Você sabia que seu tipo de personalidade pode influenciar na sua tendência a abandonar ou não um livro? Estudos indicam que leitores com perfis mais analíticos tendem a insistir até o final, mesmo que não estejam gostando. Já os intuitivos abandonam sem culpa e seguem em frente, acreditando que boas histórias os aguardam em outro lugar.
Nenhuma abordagem está errada — o importante é reconhecer seu perfil e encontrar um ritmo de leitura que combine com você. Às vezes, deixar um livro para trás é, na verdade, um ato de respeito ao seu tempo.
Abandonar não é fracassar: é fazer escolhas
Há quem diga que não se deve abandonar livros, pois “toda história tem algo a ensinar”. Embora essa visão tenha seu valor, ela desconsidera um aspecto fundamental: o tempo é limitado, e a leitura deve ser prazerosa, não um castigo.
Imagine que você só tem espaço para ler 12 livros por ano. Vale mesmo a pena insistir em um que não te prende, só para “cumprir o dever”? Ou seria mais proveitoso abrir espaço para algo que realmente te inspire?
Quando o problema não é o livro (e sim o momento)
É importante lembrar que nem sempre o motivo para desistir de um livro está na obra em si. Muitas vezes, é o momento da vida que não favorece aquele tipo de leitura.
Um romance introspectivo pode parecer arrastado em meio a uma rotina estressante. Um livro técnico pode não fluir durante uma fase emocional. Às vezes, deixar o livro na estante por um tempo e retomá-lo meses depois revela uma nova perspectiva.
O efeito da leitura obrigatória
Outro fator relevante é o trauma da leitura obrigatória na escola. Para muitos leitores, o hábito de abandonar obras pode estar ligado à associação inconsciente entre leitura e obrigação.
Livros impostos sem contexto ou sensibilidade podem matar o prazer pela leitura. Recuperar essa conexão, por meio de histórias escolhidas com carinho — como as que chegam em clubes de assinatura — pode ajudar a reverter esse padrão e tornar a experiência mais leve e espontânea.
Dicas práticas para lidar com o abandono literário
Se você costuma parar de ler com frequência e isso te incomoda, aqui vão algumas sugestões:
- Defina um prazo: Se em 50 páginas o livro não te prender, talvez seja hora de deixá-lo.
- Reflita sobre o motivo: É a linguagem? O momento? A expectativa frustrada?
- Mantenha uma lista dos livros abandonados: Isso ajuda a identificar padrões e entender seu gosto com mais clareza.
- Não sinta culpa: Abandonar um livro é diferente de desistir da leitura.
A leitura como espaço de liberdade
No fim das contas, o mais importante é entender que a leitura deve ser um espaço de liberdade. O ato de abandonar livros não precisa ser carregado de peso ou vergonha — pode ser, ao contrário, uma escolha consciente de priorizar o que te faz bem.
A estante ideal não é a mais cheia. É aquela que carrega histórias que te marcaram, te emocionaram e te transformaram — mesmo que no meio do caminho você tenha feito algumas pausas para respirar.